quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Para ver de novo


Há filmes que são imediatamente esquecidos após deixarmos a sala de cinema. Há outros que nos fazem sair aos prantos. E, na infindável lista de reações, há os ainda que nos fazem sonhar. Assim é com Austrália. Como um sonho, há uma dose de realismo fantástico nesse filme estrelado por Nicole Kidman e Hugh Jackman.
O galã interpreta um vaqueiro rebelde e barbudo, denominado pela função que exerce: Capataz. É visível a aversão à britânica de pele alva Lady Sarah Ashley, que na década de 1940 sai de sua terra-natal para reencontrar o marido que havia viajado para vender terras do casal na Austrália.
A lady é ironizada pelo cowboy, enquanto ela vê nele um rude vaqueiro em sua na fazenda, Faraway Downs, na qual, ao chegar, encontra o marido morto. Isso poderia virar um dramalhão, mas nas mãos do diretor Baz Luhrmann é um dos inúmeros retalhos que formam o patchwork de gêneros explorados no filme: aventura, comédia, drama e romance.
Épico para toda a família, o filme faz relembrar clássicos. O Vento Levou é um deles. É pouco provável não pensar nisso ao se ver a transformação da aristocrática Sarah na briguenta fazendeira que luta para salvar sua propriedade. Scarlett O´Hara (Vivien Leigh) também lutou com unhas e dentes por todos os pedaços de terra de sua Tara. Ambas tiveram a seus lados cavalheiros: diga-se de passagem, meios às avessas, mas protetores e bonitões, cada qual com seu estilo. Scarlett com Rhett (Clark Gable) e Sarah com o Capataz, Mas as semelhanças acabam aí.
Do ponto de vista psicológico, Sarah está mais para bondosa Leslie, interpretadapor Elizabeth Taylor em Assim Caminha a Humanidade. Enquanto Leslie cuida dos pobres, Sarah os traz para sua casa e até cobre de atenções maternais um órfão, Nullah (Brandon Walters). Meio-aborígine, meio branco, Nullah tem destaque crescente na trama, à qual, inclusive, narra. O menino e seu avô, o Rei George (David Gulpilil), são responsáveis pela magia da história. Há uma passagem na qual o cântico de ambos interrompe o estouro de uma boiada.
As cenas externas também se destacam, principalmente quando as planícies do Território Norte ganham as telas durante travessiá vitoriosa de 1.500 cabeças de gados feito por um grupo improvável: uma empregada doméstica, dois pastores, um contabilista obeso, um cozinheiro asiático, Nullhah, Sarah e o Capataz. Nessa passagem são apresentadas paisagens que lembramos filmes John Huston, consagrado por dirigir westerns de primeira linha e esbanjar em tomadas panorâmicas.
Em Austrália o registro nas grandes cenas salienta contrastantes de luzes: da claridade do deserto à escuridão do mesmo. É nesse ambiente que a platéia feminina delira com um banho de balde do personagem de Hugh Jackman. já considerado um dos homens mais sexies do mundo.
Outros suspiros virão, um deles é quando o Capataz usa um smoking. Quando isso ocorre, a química entre Sarah e o Capataz não deixa dúvidas no espectador.
Com a paixão, o agora casal rompe com padrões próprios e com os da sociedade puritana da época. A união, no entanto, se desfaz até o surgimento de motivos que os afastam: Segunda Grande Guerra, risco de venda da fazenda, a possibilidade do casal perder Nullah e a resistência do Capataz em se entregar plenamente ao amor para não sofrer como no passado.
O trio se separa e só se reencontra após o amor de todos ser testado a extremos e em meio a bombardeios de aviões japoneses. É o apogeu dos sentimentos que permearam toda a trama, longa e que apresenta muitos finais antes do verdadeiro The End.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Aqueles 'labios rojos'...



E por falar em divas (como no texto anterior), também vou lembrar a existência dos batons vermelhos. Sim, isso mesmo. Quando bem aplicados são capazes de até desviar a atenção de olhos e olhares como os de Maysa. Se ela usou e abusou do delineador, o mesmo se pode dizer da coloração em seus lábios. Particularmente, sou favorável a algo menos over. Explico: lábios marcados, olhos discretos e vice-versa. Mas Maysa pode, como também pode Marilyn Monroe, só para lembrar outra artista intensa, de vida intensa. E não esqueçamos da Amy. Coerência também pode ser a escolha do batom. Isso me fez lembrar artes plásticas. Bem, isso fica para outro dia.
Quem entende do assunto é o maquiador Fernando Torquatto, um dos mais badalados da cena make e hair do País. Tanto que para Larissa Maciel, a atriz que se caracterizou de Maysa, ele foi buscar na cartela de O Boticário o tom exato. Leitoras, sabem qual foi o escolhido. Vermelho Diva. Anotem, afinal também podemos ter nosso dia de musa!


Batom Perfeito , O Boticário, R$ 26,90.
Seu principal benefício é a alta cobertura e longa duração

Maysa e Amy

A minissérie Maysa Quando Fala o Coração termina hoje. Assisti diariamente e concordo com as críticas sobre a precisão da abordagem sobre a psique da cantora, retratada mais como uma mulher mimada do que como uma transgressora. Não houve a similitude necessária para dimensionar a artista, cuja profundidade da interpretação e temas cantados a tornaram conhecida como a Rainha da Fossa. Mas, convenhamos que a minissérie foi uma missão e tanto. Isso pode ser observado nos figurinos, na fotografia e nas encenações. Nesse quesito, a menção honrosa é para a atriz Larissa Maciel, já cotada para premiações pela interpretação na pele de Maysa.
Bem, a busca pela perfeição é o mínimo que se espera de uma grande produção, principalmente porque o diretor, Jayme Monjardim, é filho de Maysa que, aos 40 anos, em 1977, morreu em um acidente de automóvel no Rio.
Muitas vezes imaginei como deve ter sido complexo para Monjardim narrar a vida de sua mãe, que viveu tão intensamente quanto cantou. E é sobre isso que me debruço e contesto os que imaginam que seu sucesso teve mais a ver com a sua agitada vida pessoal do que a profissional. Não fossem pelas letras e pela voz, por vezes rouca, por vezes aveludada, Maysa não teria sido o que foi, mesmo com seus inúmeros escândalos que preenchiam as páginas de jornais e revistas da época.
Escândalos só reforçam o mito, mas não têm força para criá-los. Não havia e não há dúvidas sobre o talento de Maysa, assim como hoje ninguém contesta o de Amy Winehouse, outra cantora de vida oscilante. Maysa e Amy mostraram que o talento se sobrepõe quando estão frente ao microfone. Os mais apressados poderiam citar outra contemporânea e com uma vida povoada de escândalos: Britney Spears, mas, por favor, de forma alguma há interseção entre seus graus artísticos. Bons marqueteiros até criam uma celebridade, mas não um artista e muito menos uma diva. Amy e Maysa o são.
E sobre Maysa tanto para os que a acompanharam na época do vinil quanto aos que (finalmente) entenderam com a minissérie a referência da expressão "meu mundo caiu" (título de uma das músicas que imortalizou), segue a dica para o álbum duplo da trilha sonora da história levada ao ar.
Para traçar a trajetória da cantora, foram selecionadas 27 músicas. Samba-canção, bossa nova, clássicos, como Chão de Estrelas; Tamém há espaço para canções internacionais, interpretadas em francês, inglês e espanhol, como I Love Paris e Ne Me Quitte Pas, os boleros Quizás, Quizás, Quizás e Bésame Mucho. É uma coletânea fundamental para entender Maysa e que ainda traz uma de suas últimas e emblemáticas gravações: Morrer de Amor.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

São Paulo-Barcelona-Los Angeles

Foi um domingão. Daqueles que ultrapassam a esperada e sempre benvinda (e deliciosa) refeição dominical e se estende a uma voltinha paulistana para uma degustação de café antes e depois da sessão de cinema. Afinal, domingo à tarde tem cara de telona. Neste, pude finalmente ver o filme Vick, Cristina Barcelona. Genial. Não porque é um Woody Allen. Ou será que por que é? Bem, no mínimo é para pensar. Como um bom treinador, o cineasta escalou as estrelas Scarlett Johansson e Penélope Cruz, a atriz Rebecca Hall e ao bonitón Javier Bardem.

O ‘campo’ de Woody Allen é a cidade catalã que dá nome ao filme. Além das previsíveis locações em locais que são cartões-postais, como Parque Gëll, a Sagrada Família, o diretor ainda se apodera de árvores floridas, ruelas com piso de pedras e residências arborizadas e de tom ocre e tira de cena as batidas decorações high tech que vemos cada dia mais nas produções. A sensação é de frescor e de veracidade, sem exageros. Quem já foi à terra de Gaudí sabe o que estou falando.

Com diálogos instigantes, Allen provoca o público a assumir o papel de psicanalista. A poltrona do cinema por duas horas se metamorfoseia em divã. Entende-se tudo. Não se sai da sala de cinema com dúvidas e o melhor, se ri muito, mas, novamente, sem exageros.

Bem, pós-cinema, pós-conversa em cafeteria, finda a tarde, mas o domingo ainda não teve seus minutos finais e nem serão eles do Fantástico. Haverá prorrogação com a apresentação do Globo de Ouro. Um verdadeiro colírio, principalmente para quem adora um red carpet.

É no tapete vermelho de Beverly Hills que os astros de cinema têm seus 15 minutos de modelo! Eleitos por seus desempenhos em filmes e seriados, ao posarem na chegada para a premiação, eles param, acenam e sabem que neste momento são coadjuvantes. Afinal, o destaque é o que estão vestindo.

Não há escapatória. Não à toa que os grandes ateliês de alta-costura disputam durante meses a preferência dessas estrelas para que suas roupas, jóias e sapatos sejam escolhidos para a ocasião. A ideia não é faturar com a venda para os atores, que, aliás, recebem free os modelitos. Bem, há os que preferem usar acervo pessoal, mas isso é a minoria da minoria. Há joias que também retornam aos joalheiros por conta dos valores astronômicos das peças, mas isso, os artistas entendem. Faz parte do jogo. Imagine, milhões de telespectadores estarão atentos às preferências deste e daqueles. É um dos melhores marketings de imagem: os artistas fazendo bonito e os estilistas, idem.

E, já que entrei na madrugada para ver os que eles usam, nada mais natural que dividir com vocês o que me chamou a atenção nas roupas das atrizes. A dos atores, deixo para outra ocasião, afinal a variação dos smokings e terninhos não saiu do lugar-comum.

A julgar pelo que se viu, é melhor aposentar os decotes nas costas, que já foram hits em edições anteriores. A vez é do tomara-que-caia. Colos e pescoços à mostra, reforçados por cabelos presos, em sua maioria, os coques - o penteado oficial das noites de gala. Também apareceram as mangas de um ombro só e um ou outro decote frontal, como o vestido de gosto duvidoso de Jennifer Lopez. Dourado, ele valorizou demais as curvas de J.Lo, que ainda não recuperou a forma anterior à gravidez. E dourado, bem...

Mas, voltando ao tomara-que-caia (e elegância), se eu fosse eleger o melhores looks da noite, nele estariam os da cor vanilla da Dior. Eva Mendes, Salma Hayek e Sandra Bullock usaram a cor e a grife e estavam impecáveis.

Drew Berrymore, com um penteado à moda das capas da Cosmopolitan, fez bonito a bordo de um John Galliano (estilista da Dior!) azul-cinza claríssimo. A impressão é que Drew flutuava. Penélope Cruz também estava livre , leve e solta em um tom pálido by Armani. Os mais estruturados também tiveram vez.

O melhor exemplo foi o Yves Saint Laurent preto usado pela grande vencedora a noite, Kate Winslet, que ganhou os Globos de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante por, respectivamente, Apenas um Sonho e The Reader.

Bem, e Vicky Cristina Barcelona? Claro, ganhou na categoria Melhor Comédia.