quinta-feira, 23 de abril de 2009

Salve-se quem puder ou, melhor, quando o cavalheirismo é assunto do passado

Nem sempre as palavras acompanham as mudanças de hábito. Certo?
Exemplo é cavalheirismo, que, a despeito de ter sido uma palavra consagrada como ação do gênero masculino, nos últimos tempos acabou incorporada, pasmem, aos hábitos femininos. Quem é mulher sabe que pedir um help para outra mulher tem sido mais eficaz do aos ditos cavalheiros. Bem, mas nos dicionários, entre as definições de cavalheiro estão: “par de uma dama na dança” e “homem de boa sociedade e educação”, mas não é exatamente o que vemos por aí...
OK, concordo com a turma do neo, digo, do novo: mudanças estão aí para serem incorporadas, mas acho que o estágio da humanidade bem que poderia incorporar só os bons hábitos e costumes. O mundo certamente seria melhor.
Por que não separamos o joio do trigo? Por que não paramos de aceitar toda e qualquer mudança como regra absoluta? Até onde eu sei, o sexo forte fisicamente ainda é o masculino, o que por si só justificaria a continuidade do cavalheirismo se não em todas, em muitas situações.
Aliás, alguém se habilita a ceder seu assento em um consultório, num laboratório, num ônibus ou em uma fila para uma grávida, uma idosa? Bem, com a situação que presenciei neste fim de semana, chego a conclusão que não.
Vamos à cena: estava eu na fila do caixa de um badalado bar quando uma moça que estava à minha frente foi avisada pelas amigas que o bolo de aniversário de sua mesa estava chegando e só estavam esperando por ela para cantar o tradicional Parabéns. A mocinha em questão, vendo que na frente dela estavam seis rapazes de uma única mesa (vários deles usando a camisa bordada com nome e logotipo de uma empresa), sorridentemente perguntou se poderia passar à frente, justificando que uma aniversariante a aguardava e que ela estava com o dinheiro à mão, o que não tomaria nem 30 segundos de espera deles. Sabe qual foi a resposta mais amena dos seis ‘cavalheiros’: “você é muuuuuuito folgada”. As demais nem preciso dizer...
A garota ficou passada, praticamente congelada com a resposta, que bem poderia ter sido limitada a um ‘não’. Diante de tanta ferocidade - afinal eram seis homens gritando só porque houve um pedido justificado para passar à frente -, a garota, depois de tomar ar, respondeu, enquanto assistia à distância o bolo de aniversário ser cortado: “Pois é, o cavalheirismo está morto, enterrado e já teve missa de sétimo dia, a qual nem fui”. As demais mulheres da fila, que também aguardavam os seis marmanjos lembrar com lentidão as senhas de seus cartões de débito, foram solidárias à moça, que, como havia previsto, demorou menos de meio minuto para pagar a conta.
Conclusão: salve-se quem puder!

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Cineminha



Adoro cinema. Não me coloco na categoria de cinéfila ou crítica versada, mas sou bem capaz de rever Encouraçado Potemkim sem pestanejar e delirar com a genialidade de Eisenstein ou de vibrar com os movimentos de câmera em Cidadão Kane. Sou tão fã dos diretores da Nouvelle Vague, em especial de Truffaut. Se alguém viu Jules et Jim ou Duas Inglesas e o Continente, sabe do que falo. E confesso que acho fan-tás-ti-co o western Sete Homens e Um Destino. Enfim, meu gosto cinematográfico é pot-pourri, a ponto de me dar liberdade de destinar muitos começos de noites de domingo a uma sessão pipoca (aliás, quentinhas e com manteiga) bem à la Sessão da Tarde. Ir ao cinema aos domingos, para mim, pede um roteiro leve e nada indigesto, como as comédias românticas, bem água com açúcar. Acho que esse tipo de escolha tem mais a ver com a dinâmica da segunda-feira do que com o próprio domingo. Afinal, se as horas do domingo se arrastam, o mesmo não posso dizer das de segundas-feiras, que já começam aceleradas.
E foi nesse espírito que junto com amigas fui ver o Ele Não Está Tão A Fim de Você. Baseado em um best-seller de autoajuda que, em resumo, dá dicas sobre se o homem está interessado ou não em você. Mas do que pelo enredo, fui atraída pelo elenco estelar: Jennifer Aniston, Drew Barrymore, Ben Affleck, Jennifer Connely, Scarlett Johansson e o bonitão Bradely Cooper.
Dei boas risadas junto com o resto do público. E este, não parava de tagarelar, sem dúvida houve identificação. São tantas as personagens que é impossível não achar uma ou pelo uma situação vivida por uma delas que nos faça recordar da vida real. Mas, apesar da diversão fast-food, acho que o tiro saiu pela culatra. Explico: de tão leve, o filme chega a irritar com tantos comportamentos contemporâneos de mulheres que buscam o amor via internet, embebedando-se de bar em bar ou, ainda, distribuindo seus cartões para o primeiro que dá um pouquinho de atenção. Há ainda a polarização de uma professora de ioga sexy, loira e desencanada, com uma morena, rabugenta e assexuada que estão envolvidas, respectivamente, como amante e esposa, com o personagem de Bradley Cooper.
Enfim, são mulheres girando sempre em torno dos homens, que, por sua vez, são colocados como mestres em dar perdidos. O filme dá tantas voltas que perde sua graça. Pensando bem, Almodóvar teria feito desse enredo um clássico; não tenho dúvidas: talvez um Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos 2.